Ter ideias é arrumar encrenca (das boas!)

autor: Ronei Sampaio
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Muito se fala sobre a capacidade de se ter ideias. Há visões que consideram o ofício de ideaizar como próprio de um gênio isolado que, como num passe de mágica, acende uma lâmpada acima de sua cabeça e começa a sua jornada de inovação. A visão “eureka” da geração de ideias habitou durante muito tempo nosso imaginário e pode ter contribuído para nos fazer acreditar que pensar o novo é coisa para poucos. Mas, calma lá! Hoje, te convidamos para olhar para as ideias e para o ofício de criá-las de um modo menos ameaçador.

Gerar ideias não é um dom

Isso mesmo. Criatividade não é algo com que se nasce e ponto. Imaginar novas possibilidades é pura técnica e por aqui nos arriscamos em dizer que deveria ser matéria ensinada desde o início da nossa vida escolar. Sabe aquela história do 1% inspiração e 99% transpiração? É quaaaase isso. A coisa fica mais interessante se você considerar que é possível estimular esses lampejos de inspiração – ou insights – se utilizando de técnicas específicas. Então, as porcentagens ficam tão malucas que preferimos dizer que ter boas ideias é um tanto de inspiração misturado em outro grande amontoado de esforço. 

Alguém poderia dizer: “Baita privilégio esse de sentar para ter ideias enquanto o mundo está a 220 km/h”. Sobre isso, queremos propor uma nova leitura sobre o exercício de imaginar: ter ideias não é tão diferente assim de agir e é, ao seu próprio modo, uma forma de intervir sobre o mundo. Como geradores de ideia, precisamos imaginar que a matéria prima para o nosso trabalho é a própria vida em toda a sua complexidade. Por aqui, acreditamos que boas ideias são aquelas que de algum modo conseguem estabelecer um diálogo com as pessoas e suas práticas. Então, ter ideias é antes de tudo olhar de forma curiosa para a vida e essa abordagem de “pesquisador” é também uma forma de atuar.

É preciso ter caraminholas na cabeça para se ter boas ideias? Sim e não. O que é necessário é ser um pouco inconformado e considerar que não é porque algo está pronto que está definitivamente acabado. No exercício com a imaginação, podemos ver o mundo com um grande trabalho ainda a se fazer. Quantas vezes você já olhou para o seu entorno e pensou: funciona, mas podia ser melhor. E, por isso mesmo, ter ideia será sempre arrumar encrenca (mas das boas!)

Ok, ok. Mas como estimular essa musculação das ideias?

Como não resistimos a uma boa e velha lista, vamos compartilhar com você 5 práticas que adotamos quando queremos estimular a imaginação.

1. Do corpo para o mundo

Do corpo para o mundo: vamos deixar a separação de corpo e mente para os cartesianos de plantão? Estimular todo o nosso corpo, reconhecendo nossos sentidos como importantes ferramentas de percepção da realidade é muito útil para estimular a criação. Cheire, toque, abra vem os ouvidos e apreenda. 

2. Escute não só com o ouvido

Escute não só com o ouvido. Essa dica está relacionada com a primeira, mas o desafio aqui é o de assumir que você não sabe tudo e que o aprendizado é fundamental para se ter ideias. Escute com a mente aberta, evite criar barreiras ou julgamentos sobre aquilo que ainda está apreendendo. Você não tem obrigação nenhuma de ter uma opinião sobre tudo prontamente e admitir isso pode ser libertador.

3. Conte com os outros

Conte com os outros. O mundo é muito vasto e você não vai conseguir apreendê-lo inteiro no seu exercício de criação. A dica aqui é a de contar com sujeitos, suas vivências e percepções para se ter boas ideias. Se torne alguém viciado em conversar com os outros e imagine que, a cada bom papo, suas pré-concepções podem ser leve ou drasticamente deslocadas. 

4. Valorize o poder do hábito

Valorize o poder do hábito. Não entenda o ofício de imaginar como algo restrito a um projeto ou contratação. Cultive práticas simples e diárias para enriquecer o seu repertório e, para isso, vale quase de tudo: ouvir um artista novo por dia, fazer sua ronda por sites ou blogs de referência em seu campo de atuação, experimentar uma comida e etc, etc. O mais importante aqui é o exercício e a repetição.  

5. Compreenda a ansiedade

Compreenda a ansiedade. Em maior ou menor grau, ansiedade faz parte do processo de criação. Muitas vezes, ficamos mais ansiosos quando cultivamos o sentimento de que ela não deveria estar ali – ansiedade gerando mais ansiedade. Uma boa dica é acolher o sentimento, mas de uma forma interventora. Isso quer dizer que podemos adotar alguns métodos que mantenham esse bichinho sob controle, tais como cronograma ou lista diária de tarefas. Além disso, pedir ajuda em momentos de pico pode ser uma valiosa boia para emergimos de mergulhos muito profundos. Na medida em que nos conhecemos melhor como geradores de ideia, aprendemos quais são os momentos em que a ansiedade ataca com mais força e já ficamos de butuca ligada.

Chegamos até aqui talvez com mais dúvidas do que certezas e isso é um ótimo sinal. Certezas  parecem extremamente confortáveis, mas estão mais para aqueles benditos sapatos que de tão apertados nos impedem de caminhar (apesar de lindos). No final da contas, a gente acredita que ter ideias é uma atividade de quem não desistiu, já que há sempre um componente de sonho no exercício de imaginar. E já que estamos falando disso, pra gente a ideia mais transformadora de todas, uma espécie de nave mãe de todas as outras, é a de que todos são capazes de idealizar realidades. 

* Fotografia de capa: intervenção tipográfica sobre imagem de Benjamin Lehma (pexels.com)

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