O desafio do feminino no design

autor: Ronei Sampaio
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Sentimos, percebemos, significamos. É pela linguagem que organizamos nossas experiências no mundo. Mas e quando este código não dá conta da complexidade e da multiplicidade de um conceito? E quando escolher uma representação imagética pode significar o apagamento de outras experiências que também cabem no guarda-chuva daquela definição?

Essas perguntas resumem o desafio que tivemos na construção da identidade visual do projeto “Conectando mulheres, defendendo direitos”, idealizado pela ONU Mulheres. A iniciativa visa criar redes de apoio para as defensoras de Direitos Humanos e tornar-se um símbolo do enfrentamento à violência praticada contra essas mulheres. Além disso, tem como objetivo melhorar a percepção social em relação à elas, dado o contexto atual de ameaças constantes aos direitos humanos e a seus defensores, somado aos ataques contra a agenda feminina e feminista.

Como representar a diversidade?

Identificamos que algumas palavras norteavam a personalidade da marca, sendo uma delas “feminina”. Um conceito tão facilmente estereotipado deveria ser graficamente traduzido para abranger toda a diversidade que cabe dentro dessa definição, levando em consideração a existência de diferentes recortes de gênero, etnia, classe e sexualidade.

Para que houvesse um distanciamento em relação ao senso comum do que é feminilidade, trabalhamos primeiro na tradução do que entendemos por feminino, que foi interpretado como qualidade de adaptação, receptividade, acolhimento, expressão, subjetividade. Como um tipo de segurança por meio do afeto. Compreendemos o feminino e o masculino enquanto extremos de um espectro, energias opostas que se manifestam em diferentes níveis e de diferentes formas em cada pessoa, ambiente ou situação. Abstração e materialização, passividade e atividade, movimento e dureza, subjetividade e objetividade. Bem Yin e Yang!

Outro aspecto importante na representação dessa diversidade que consideramos como riqueza do conceito foi entender que uma abordagem figurativa poderia ser muito restritiva, pois assume a universalidade da experiência enquanto mulher, isto é, que ser mulher para uma pessoa é a mesma para todas – enquanto sabemos que não é assim. A cor rosa, o espelho de vênus e o ícone de uma pessoa com uma saia são exemplos de clichês na representação do feminino e não geram identificação em muitas mulheres.

Pesquisa rápida no Google Imagens sobre “ser mulher” evidencia nos primeiros resultados mulheres brancas e cis, a presença da cor rosa e de elementos que remetem à delicadeza, como flores e borboletas. A maioria dos textos destaca a “força” como característica feminina, problemática se pensamos neste termo como naturalizador da sobrecarga mental e emocional imposta sobre as mulheres

A utilização desses símbolos pode ser vista como uma forma de segmentar e “organizar” a percepção humana, mas é muito importante questionarmos o surgimento e a reprodução desses parâmetros e a violência e o apagamento que eles geram para as pessoas que não se encaixam nesse padrão. Ser mulher não é o mesmo que performar feminilidade.

A interseccionalidade

O feminismo interseccional contesta a universalidade da experiência como mulher e inspirou bastante o processo de construção da identidade. No vídeo a seguir, a filósofa Djamila Ribeiro explica essa ferramenta teórica e metodológica usada para pensar os diferentes níveis de opressão vividos pelas mulheres dependendo do recorte de raça, classe, gênero, sexualidade, entre outros marcadores sociais.

Entendemos, então, a abstração como o melhor caminho de representação gráfica do feminino, porque conseguimos transmitir os conceitos da personalidade da marca por meio de sensações, ao invés de uma definição fatalmente limitada e excludente. A noção de que mulheres vivem diferentes realidades e têm diferentes pontos de partida, mas compartilham um ponto em comum, norteou a criação da identidade e é fundamental para construirmos marcas, produtos e serviços cada vez mais inclusivos.

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